Recebi o diagnóstico de transtorno misto do psiquiatra que busquei para me atender. Ele me ouviu, iniciou o tratamento e descobriu o que estava acontecendo comigo. Foi uma das piores e melhores conversas que já tive com qualquer profissional da saúde. Mas deixa eu começar te contando sobre o meu caso. E isso significa que toda semelhança encontrada neste texto precisa ser avaliada por um profissional da área médica especializada.
Em 2022 tive alguns episódios de ansiedade, preocupação demasiada com situações pequenas, e um ataque de pânico. É uma angústia muito grande, com falta de ar, respiração cansada, sudorese e dor no peito. Achei que fossem as sequelas da covid, ignorei os sinais do meu corpo, busquei o cardiologista para me acompanhar e não havia nada de errado comigo.
Nesse ano eu tive grandes desafios profissionais, semelhantes aos que vivi em 2019. Mesmo assim, quis acreditar que nenhum desses episódios estavam relacionados aos sintomas que, ora ou outra, apareciam. Fiquei muito cansada, queria ficar deitada o dia todo, não tinha ânimo para correr, caminhar, conversar com as pessoas. Eu só queria e precisava ficar sozinha.
E houveram dias e dias como esse. Além de uma agressividade demasiada, choros e pensamentos incontroláveis. Não conseguia me concentrar, era como se estivesse ao redor de muitas pessoas e não ouvisse ou compreendesse ninguém. Estava como que com mau-contato. Um fio desencapado de alguma parte do meu corpo me alertava que algo estava piorando.
Resisti em buscar ajuda. Jamais admitiria, naquela situação, estar com a saúde mental em pedaços. Eu não queria ser atendida por um “médico de doido”. E o meu psiquiatra foi indicado por uma amiga. Um presente para minha família, que já não sabia como lidar com as minhas alterações de humor e os demais sintomas da doença.
Não consegui ser forte e eu me cansava mais sempre que precisava ser. Estava tão doente que só pensava em como seria a forma mais eficaz de resolver o problema dos outros, eu no caso, sem ajuda médica. Até que aceitei ir na primeira consulta para ver como seria.
Foi horrível. Saí de lá chorando muito, com uma lista de medicação de controle especial e compreendendo que estava doente. Não queria aceitar a doença, o diagnóstico, o tratamento, como uma criança que não aceita ser cuidada, sabe? Retornei na semana seguinte, já estabilizada (graças a medicação), e pronta para o desmame.
Essa foi a minha primeira decepção pós-tratamento: aumentar a dosagem e não saber quando iria parar a medicação. Queria aceitar que eu estava bem sozinha, e quis um prazo, uma data, um sinal de que eu estava bem o suficiente em um tempo determinado. Mas não funciona assim! E esse, repito, é o meu caso. A abordagem que foi utilizada comigo deu certo. Dado meu retorno, fomos de troca da medicação e aumento da dosagem, novamente. Além de um encaminhamento para terapia, com uma psicóloga.
Que fase! Eduardo, meu esposo, esteve comigo desde a primeira consulta. E eu achei que estaria de alta muito rapidamente, afinal estava estabilizada há quase dois meses. Saí chateada, porém, bem. Duas semanas depois e continuando a medicação, me vi grávida pela quarta vez, foi no pior momento da minha saúde mental. Estava processando muita coisa além de lidar com o transtorno misto, explicar para as pessoas próximas o que estava acontecendo, orientar as crianças em casa, conflitos no trabalho e uma enxurrada de coisas ruins.
Parei a medicação sem consentimento médico e passei por um efeito rebote, ou seja, tudo que eu já tinha resolvido com a medicação, perdi nos dias que suspendi o tratamento. E foi aí que voltei para o buraco onde estava, grávida e sem querer fazer mais nenhum tratamento.
Perdi o bebê nesse período e voltei para o consultório médico para retomar o tratamento ainda pior do que estava antes. E não, o tratamento não foi o responsável pela perda do bebê. Ele simplesmente não estava formado, foi um aborto espontâneo e que contarei em outro texto.
Estou na terapia e tomando as medicações de controle, sendo acompanhada pelo psiquiatra e também por minha família. Foi aí que me descobri grávida, novamente. E João, meu quinto filho, quando o descobri, viveu algo completamente diferente comigo. Uma mãe estável, medicada, disposta, completamente diferente daquela pessoa que estava ali, semanas atrás.
E porque estou te contando sobre algo tão doloroso para mim? Porque nesse período em que precisei ficar longe das redes sociais, e o pouco que partilhei sobre esse assunto, diversas pessoas me procuraram para relatar situações semelhantes. Umas, tratando há anos, outras, com sintomas semelhantes e sem saber por onde começar.
O começo é difícil, mas busque ajuda de um profissional especializado. Não é a enfermeira do postinho, nem a receita da vizinha, ou a medicação de dormir do chefe. É consulta com um psiquiatra sério. O investimento necessário que você precisa fazer para que sua vida não corra riscos. Depois, siga o tratamento que ele lhe recomendar. Por fim, estude e entenda sobre o seu caso, os sintomas, as medicações e explique para as pessoas, que para você importam, como a doença precisa ser levada a sério, sem piadinhas, preconceitos e medos.
Espero ter ajudado e, como prometido, todos os meses traremos esse assunto para partilhar um pouquinho mais com aqueles que desconhecem o assunto. Vamos encerrar o Janeiro Branco trazendo informações e dignidade para aqueles que precisam.
Querida!
Minha historia é bem semelhante nos sintomas… com algumas outras “coisinhas a mais”… meu diagnostico nos ajudou a identificar o mesmo transtorno em nossos filhos. Eles vinham tratando de depressão (alguns anti-depressivos não tratam o transtorno misto e podem ate piorar a coisa). Foi a partir de um excelente profissional, uma anamnese muito bem feita, remédios ajustados para cada caso que conseguimos acertar o tratamento e hoje todos estamos muito bem cuidados, graças a Deus! Mas ja entendemos que não temos prazo de alta… e tudo esta nas maos de Deus! Creio firmemente!
Grande beijo!
Saude pra vc!
Deus te abençoe!
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