Enquanto come uma refeição em família, num shopping, restaurante ou em uma confraternização da firma, você verá uma criança com os olhos fixos em um celular ou tablet. A tecnologia chegou, ainda mais sedutora e desenvolvida, para as crianças da primeira infância e para o conforto dos pais. Os pequenos sabem deslizar os dedinhos nas telas e desbloquear os aparelhos eletrônicos com uma facilidade impressionante. Além de cada vez mais cedo. Os App de jogos estão lá, com entretenimento e muito, muito barulho. E até onde podemos ir com segurança nessa conexão dos pequenos com o mundo virtual?
A verdade é que cada um sabe onde o calo aperta quando falamos de filhos. Não pense você que sou a mãe anti-tela. Eu sou a mãe que entende o que é necessário e o que é totalmente dispensável. Por isso, te convido a acompanhar meu raciocínio sobre a temática polêmica que envolve tecnologia e o desenvolvimento comportamental dos nossos filhos, especialmente na primeira infância.
Crianças não são seres que nascem mimados, ou com rotinas estabelecidas desde o útero, costumes e etc. Elas são pessoas que precisam de observação e orientação dos pais. Não tem segredo para se educar um pequeno ser. O que eles precisam é de firmeza e segurança. Já fui a mãe que deixou a criança no celular para conseguir comer uma comida quentinha na hora certa ou confraternizar com uma amiga durante uma pizza. Sou a mãe que usa da tecnologia, ainda hoje, como arma de troca para conseguir olhar a cabeça das crianças e retirar, com facilidade, lêndeas e piolhos que elas trazem das escolas diariamente.
Miguel, o meu primogênito, foi exposto às telas desde muito cedo. Porém, tudo era filtrado, assistido junto, selecionado, na faixa etária permitida, e erroneamente cedo demais. Há dois anos descobrimos a necessidade de utilização de óculos para ele. Problema, claro, que se agravou na Pandemia com a necessidade de aulas online.
Imagina só: três crianças em casa, uma no primeiro ano do ensino fundamental, uma com atividades de pré-escola e outra recém-nascida. Como não utilizar as telas como aliada? Foi quando iniciaram as aulas online que me vi sem ter o que fazer. Miguel não sabia ligar o computador, nem digitar o próprio nome, ou responder digitalmente as informações que a professora pedia durante a participação dos alunos na aula. Perdemos tempo com vídeos educativos e musicais, sem interação com a tecnologia, e não nos preocupamos com o que, de fato, poderia ser importante para o aprendizado do nosso filho.
Claro que corremos atrás do prejuízo. Ensinamos o que ele precisava saber para acompanhar a sua turma que, impressionantemente, tinha habilidade e rapidez com a tecnologia utilizada pela escola. Também fizemos o acompanhamento com oftalmologista para entender melhor sobre a saúde dos olhos das crianças e lá, descobrimos que a primeira infância é de fundamental cuidado com a saúde dos olhos e que, jamais, deveríamos ter introduzido as telas precocemente na vida dos nossos pequenos. Saímos do consultório com horários estabelecidos para cada criança e a recomendação de a caçula não ter esse “privilégio” que os outros receberam.
Nossa pediatra nos orientou sobre os super estímulos que nós, pais, colocamos às crianças tão cedo. Crianças que ainda estão com cérebro em desenvolvimento e são expostas a fatores de ansiedade, depressão e outras doenças emocionais por conta do abuso das telas na primeira infância.
São os conteúdos, os sons, as cores, as vozes, o tempo de exposição, muitas coisas que afetam o comportamento social dos nossos filhos. Reflexo que terão, inclusive, na vida adulta! Experimente, por exemplo, pegar o celular de uma criança enquanto ela assiste um vídeo que ainda não terminou.
Dia desses, vi uma cena pavorosa no supermercado e foi desesperador para a criança. Ela gritava, se jogava no chão, a mãe a colocou no carrinho de compras, ela começou a atirar os produtos no chão, gritando, chorando, pedindo o celular de volta, e os pais desconcertados, cederam. E porque? Porque a criança está conectada a ponto de ter o vício dela alimentado por chantagem emocional que faz, involuntariamente, contra os pais. Celular vicia! E se você é pai ou mãe e já passou por isso, sabe do que estou falando.
Eu conheço crianças que não têm paciência, por exemplo, com os anúncios que aparecem no meio ou no intervalo de um vídeo para o outro. Elas choram, brigam, querem pular rapidamente para não quebrar aquele momento de super estímulo prazeroso que estão recebendo e que, drasticamente, fora interrompido. Mas você compreende a gravidade desse tipo de situação?
Saber como lidar é o que mais importa nesse conteúdo aqui. O caso mais absurdo visto por mim foi esse da imagem. Durante a celebração da Santa Missa uma criança estava muito agitada, chorosa, e não ficou quieta enquanto os pais não cederam ao desejo da menina que pedia, insistentemente, o aparelho celular da mãe. Na hora eu fiquei assustada! Não quis tirar minha atenção do que estava acontecendo, mas foi absurdo para todos que estavam próximos, ouvindo aqueles barulhos de jogos, as dublagens horrorosas dos personagens gringos e os pais achando uma possibilidade de ignorar o que estava acontecendo para viver o silêncio (em partes), que a filha deixava em sua ausência de choro por ter o pedido atendido prontamente.
Nunca me incomodei ou tratei desse assunto por achar ser algo muito particular entre as famílias. Eu sei como as coisas funcionam aqui, no meu terreiro e vou contar para vocês em outro texto. Mas celular durante a Santa Missa? Ceder para uma criança de menos de três anos? Foi o pico do absurdo para mim. O limite do aceitável está dentro de casa. E se lá você não consegue controlar seu filho, fora, muito menos.
O celular pode ser um aliado. Ele não é o vilão. Demonizar as telas, em momentos tão necessários e de aprendizagem para o futuro de uma geração, é ignorância pura. E tem muita coisa que não é saudável e consumimos diariamente! Que essa frase não seja uma desculpa para ceder a qualquer tipo de apelo, mas um incentivo para que os pais se envolvam mais e se preocupem com as escolhas que seus filhos estão fazendo no mundo virtual.
As telas precisam de ensino, moderação, tempo e paciência. E educar os filhos é isso! Ensinar que não é porque todos têm que você também terá. O aparelho eletrônico tem sua utilidade e é para isso que será utilizado. Ensine seu número telefônico para seus filhos! Como fazer uma chamada para os pais, avós, como enviar mensagens para os familiares, como fazer pesquisas de escola por esse infinito universo de possibilidades que a tecnologia permite. Diferencie a fake news de uma notícia com credibilidade, fale sobre história, política, ajude seu filho a construir suas preferências, fale sobre os perigos das redes sociais e respeite a faixa etária para jogos e acesso às Redes. Ele vai crescer! Seu filho vai precisar se virar na escola, no mercado de trabalho, no serviço voluntário, e ele precisa da tecnologia. Não tem melhor educador social com suas bases e referências que os pais.
Estou lendo um livro chamado “A fábrica de cretinos digitais. O perigo das telas para as nossas crianças.” Ele trás uma reflexão interessante sobre o assunto.
Já vou incluir na minha lista para ler ainda esse ano. Obrigada, Lu.
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