Começar pelo começo é sempre a melhor saída
Nesta semana eu fui a pediatra com minha Maria Teresa. Desde que teve início a essa pandemia nós decidimos cancelar as consultas de rotina e priorizamos os serviços básicos para nossa sobrevivência. Porque, né, em cinco pessoas a aglomeração fica bem evidente.
Como estamos nos aproximando do sexto mês de vida da minha Maria, e retorno ao trabalho em breve, precisei voltar na médica e rever algumas orientações para dar início a fase mais esperada por muitas mães: a introdução alimentar.
Antes, deixa eu te contar que eu fui a mãe de primeira viagem mais empolgada que você possa imaginar. Preparei o cardápio de comidinhas do meu Miguel com semanas de antecedência. Ele era um bebê curioso, gordo, comia bem, aceitava de tudo, e eu fui muito feliz. Com o tempo, passei a oferecer os alimentos em pedaços, conheci e estudei o método BLW e me sentia, muitas vezes, a mulher maravilha da minha casa.
Com a chegada da Maria Clara e as fragilidades da gravidez, tivemos uma mudança radical no comportamento da família e, consequentemente, na introdução alimentar. O cardápio não era tão prático, ele foi separado. Daí veio a creche, uma pielonefrite ao seis meses de idade e muitas paranoias que, de alguma forma, me fizeram esquecer o prazer de viver essa fase. Lembro que começamos com papinhas doces, depois as salgadas, depois os sólidos, e água, muita água.
Agora, com Tetê, tem sido muito lindo, emocionante até. Me preparei comprando o que precisava: colheres de silicone e alguns bicos novos para mamadeira em bom estado de conservação, e cá estamos, sem o preparo emocional para lidar com essa fase, e já estamos na terceira vez. Mas o que teria de diferente dessa vez? E um sentimento bem diferente. E estou começando a entender o porquê de isso interferir no comportamento do filho, especialmente, o caçula.
Venha bem. Eu já estou na casa dos trinta e um pouquinho mais, não sei se teremos outros filhos. Até aqui Deus tem nos surpreendido e amado concretamente. E eu estou saudosa e sofrendo por algo que ainda não aconteceu. Pode ser o efeito pandemia. Pode ser que eu esteja mais sensível a essa fase. Mas essa vez está sendo saudosa, sofrida, arrastada, sabe. E me dói ter que ensinar minha filha a não depender de mim mesmo sabendo que esse é fluxo natural da vida, crescer. Ontem, um grande amigo me perguntou: “Você está criando seus filhos para você e ou para o mundo?” Eu queria responder que para mim, mas não são. E você entende o que estou falando. É sobre deixá-los para que sejam.
Esse egoísmo ridículo as vezes grita em nós, mães. E se tem uma coisa que 2019 me ensinou é que temos que saber colocar as pessoas e os nossos sentimentos em seus devidos lugares. Por isso estou aqui, expondo minhas misérias! Não é justo com minha Maria ter a mãe sendo emocionalmente invadida pela criança birrentinha que existe dentro dela, não é verdade? Dói muito mais em mim do que nos meus filhos quando eu deixo de amamentá-los. Eu sofro! É a nossa última faísca de cordão umbilical mãe/filho. E dói! E que meleca de mãe é essa que, na terceira oportunidade de ser melhor, não melhora? Ta errado isso ai.
O que posso dizer é que: hoje, dia 1 da introdução alimentar, eu não reclamei da bagunça. Eu limpei o chão pensando em tudo isso que você leu até aqui. Eu não me preocupei com os possíveis engasgos ou gag reflex, eu amassei, peneirei (e eu não sou a mãe da peneira hein), eu sorri com ela, tirei algumas fotos, deixei os irmãos se divertirem. Experimentamos juntas, vamos conhecer muitas frutinhas e papinhas, compartilhar muitas receitas, e viver essa fase sem esse clima de despedida fúnebre que estava para começar.
Guardarei esse dia com gratidão. Foi o dia que Deus preparou para nós, filha. E Ele tem sido abundante conosco. Claro que Maria Teresa será a recordação mais recente que terei na memória quando o assunto for maternidade. Já não me lembro de algumas coisas dessa fase do Miguel e nem da Maria Clara, que nasceu esses dias, mas é por isso, pela caçula da mamãe que estamos aqui. Registrando, com saudade e amor, que essa fase vai passar. E volto aqui para contar mais sobre esse processo afetivo e prazeroso de ensinar os filhos a comer, e comer bem.