Mãe, você não está sozinha: descanse

Poderia começar esse texto contando sobre as maravilhas da meternidade. Da alegria e benção que é ser mãe, ser a pessoa que gesta uma vida e que carrega consigo a missão de educar essas pequenas almas: lindas e abençoadas, para o céu. Também pensei em contar sobre como a meternidade tem seus lados, versões e demandas. Podendo ser transformador para a vida de uma mulher…ou não.

Piegas!? Talvez. Eu sei que adociquei um pouco esse maternar aí nos últimos dias. São os hormônios do pós-parto. Não tenho dúvidas! Seria importante um texto mostrando o lado B da maternidade, certo? Mas eu já apresento isso nas redes sociais, todos os dias. E a realidade da maternidade sendo empurrada goela abaixo? É melhor não…já tem gente demais fazendo isso conosco desde que anunciamos a gravidez.

Hoje eu pensei em escrever sobre a minha mãe, e outras tantas Marias e mulheres fortes, guerreiras, amorosas e sobrecarregadas, relatando como faziam para cuidar de mim e de tantas outras como eu, lá em 1980 e alguma coisa. Quanta transformação nesses anos! É o modernizar da maternidade ou mais do mesmo? Desisti.

Outra decisão importante foi: preciso abordar a epidemia da romantização da maternidade? Já estamos em 2023! Bom, o que eu não quero é gourmetizar a vida real de uma boa e velha mãe em busca de likes. Mas, pensando bem, desde já, comenta aqui no final e compartilha com outras mães esse texto escrito na madrugada porque, provavelmente, estou com meu bebê no colo e digitando com uma mão só. As habilidades que a modernidade nos confere.

Não queria ter que escrever sobre como o vitimismo das mães é infantil. Odeio esse tipo de texto e ele dá palco para inúmeros artigos em jornais e sites no segundo domingo de maio. Mães não precisam expor suas lutas. Mas, tomara que as apresente. Temos que provar tudo mesmo. A vocação em nós, mulheres e mães, é só para mães que se expõe e nada mais.

Aqui eu não falo com Pães (mães que se sentem pai e mãe, continuam sendo só mãe e gostam do neologismo lacrador). E nem fato com você “mãe de Pet”, que tem meu… Meu… Minha atenção e preguiça.

Ah! Mãe de planta, o que você está fazendo aqui? Com você é só vergonha alheia mesmo. Esse texto é pra mãe real. E o que tem de importante nessa realeza?

Um baita texto sobre cansaço. Porque mais cansada que uma mãe estão as mulheres com textos feministas empoderados e frases de efeito cheios sororidade. E só de juntar tudo isso num lugar só já me sinto insuportável.

Por fim, acabei Googleando pela nuvem e encontrando fotos fofas que eu poderia participar para vocês. E os incomodaria profundamente com a beleza e riqueza de minha realeza. Filhos amorosos, se amando, cuidando e ostentaria a alegria de ser mãe de cinco. Incomodaria muita gente antes mesmo do terceiro parágrafo.

Então, na minha realeza cansada, está o corpo de uma mulher que acabou de parir, que ainda sangra, sofre, mas se alegra profundamente. A mãe cansada não está sozinha. Nem deveria, na verdade. Mas ela só precisa descansar. Mãe precisa de tão pouco…basta-lhe um colchão bem fofinho, com lençol cheiroso e uma comida gostosa e quentinha a esperando.

É só isso, galera. Não é sobre amar menos os filhos, arrepender – se de tê-los, também uma reclamação sem fim. É cansaço físico e emocional que passa. Ensinar mulheres a parar de tratar a maternidade como um fardo, para mim, é uma missão.

Não deveria ser sobre a guerreira mãe que dá conta de tudo, mas é. Ao dizer que estou cansada eu só digo que meu corpo de quase 35 anos não responde como há dez anos. Digo que meu pobre e velho metabolismo está lento. Que meu ciático implora por respeito e menos peso, e que sutiã não deveria existir e se forem queimados em praça pública, como há um tempo aí, não farão falta alguma.

O cansaço físico é horroroso. E nós, lindas, merecemos verbalizar esse cansaço sem que queiram demonizar nossos filhos, casa, trabalho ou família. Porque a vida tá boa até quando estou cansada. E tudo bem! E quando uma mulher que e mãe diz que está cansada, ela ainda ama seus filhos, sua família e lar. Mas seu corpo queria um relaxante muscular, uma taça de vinho e um banho demorado.

A mãe cansada só precisa aprender a respeitar seu corpo, sua mente e, mais que tudo, descansar! Me dei um pacote de massagem nesse mês: eu mereço! E a melhor coisa é poder relaxar numa maca, pleníssima, com seu bebê ali, ao lado. Ou no colo da profissional. Porque não fiz isso antes? Teria economizado uma grana com psiquiatra e medicações.

Assumir o que estamos sentindo, verbalizar e dar ciência disso para nós e para os outros, é a melhor maneira de ser uma boa e velha mãe. A música do padre Fábio com o Fábio Junior não é boa. Lamento. E temos que falar sobre isso também! Não é porque foi feita para as mães que vão conseguir fazer uma obra de arte como outras lindas canções que já fizeram ou interpretaram. É ruim!

O almoço fora de casa tem que ser esquecido. Restaurante lota e não estão preparados para essa data em nenhum lugar do mundo. Façam o programa em casa, com os seus. Também temos que falar sobre brindes e presentes que temos que comprar para os filhos nos entregarem: voltem para os colares de macarrão e os desenhos de tinta guache.

Dia das mães pode ser mais fácil, descomplicado, menos cansado. Nós vamos amar o chinelo que já temos sendo embalado pelos nossos filhos para nos presentear nesse dia. Só quero que esse dia seja marcado por memórias de leveza. Com menos incenações e mais ato concreto de amor e afeto.

Feliz dia das mães.

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2 comentários

  1. Sempre arrasandooooo
    E bem isso, mesmo precisamos normalizar que cansamos, ficamos exaustas. E as vezes é só um momento sozinha e td se resolve. E digo mais, essa fase não é quando os filhos são pequenos, quando adolescentes e adultos também. Afinal mãe é mãe

  2. Arrasou!
    Não conheço a música, já vou pesquisar.
    Eu sou a mãe melosa que romantiza a maternidade… é meu perfil. Mas sim, sinto cansaço sem fim. Amo esses presentes feitos por eles. São os melhores.
    Dia das mães é sinônimo de apresentação na escola, pra mim tem que ir ter

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