“Como você dá conta?”

Essa é a pergunta que sempre me fazem quando acompanham alguns poucos recortes do meu dia-a-dia pelas redes sociais: como você dá conta? Entendo o espanto porque vivemos num momento em que as prioridades são totalmente deturpadas. Mas, antes de responder essa pergunta que, para mim, é tão fácil de explicar, quero trazer você a uma reflexão que pode mudar a sua forma de compreender os superpoderes que existem por trás da maternidade aqui em casa.

Aprendi a cozinhar cedo. Foi cuidando da minha casa (que morro de saudades), lavando roupas com tanquinho, realizando todo e qualquer serviço doméstico, inclusive e não menos importante no meu quarto, que aprendi como cuidar de casa. Aos 12 anos auxiliava, nos finais de semana, nos serviços básicos de um salão de beleza da minha cidade. Eu varria o chão, lavava toalhas, fazia cera de epilação e aprendia como “fazer” as unhas das clientes. A certeza que eu tinha na minha vida quando jovem era: jamais trabalharei com isso.

Sou a única filha mulher e tenho quatro irmãos homens. Eu cuidei de todos eles em algum momento da minha vida, mesmo sendo a filha do meio. Outra certeza que sempre tive: jamais terei filhos. Mesmo gostando muito de ter a casa em ordem, o cabelo e as unhas sempre bem feitos e meus irmãos por perto (apesar de mim e deles), essas eram certezas que tive por muito tempo.

Aos 18 anos fui morar sozinha, trabalhar, estudar, descobrir o que faria da vida. Outra decisão tomada foi: não vou me casar. Depois de vários relacionamentos fracassados, inclusive à distância, com toda certeza essa era mais uma escolha acertada para aquele momento em que eu curtia minha liberdade. Casamento, para mim, reuniria tudo que eu não queria: filhos, casa limpa por obrigação (e esse tema merece um textão só para ele), cozinhar todos os dias e estar emperiquitada para os outros. A liberdade que eu achava que tinha quando jovem, na verdade, era uma prisão. Eu estava rendida diante do meu egoísmo e imaturidade.

Hoje, olhando para trás, faço questão de dar risada da Simone de quase duas décadas atrás. Minhas amigas ainda se divertem em me ver como mãe da galera aqui de casa. Porque mesmo gostando e achando crianças fofinhas, eu tinha pavor de tê-las fuçando em minhas coisas. Me lembro que com o atraso para chegar na igreja no dia do meu casamento, amigas presente apostaram que eu não iria e havia desistido do maior sim da minha vida. Isso chegou ao ouvido do padre que, imediatamente, me ligou. Eu não fugi!

Dar conta de tudo, para mim, é um processo longo. E eu não dou!

Entenda! Mesmo não acreditando que dou conta de tudo, eu faço o que posso para dar. Hoje, saudavelmente. Sem a cobrança de ter cada objeto em seu devido lugar ou com a rotina rígida que já tive por aqui comigo e com os meus. Escolhi fazer o que dá e fazer bem feito. Não é só um almoço. É o almoço que tenho para minha família!

Decidir me casar, ter uma família, responsabilidades, boletos e tudo o que construí nesses últimos ano, foi escolha! Ninguém me obrigou a nada. Ter minha profissão, optar por trabalhar, por ter cada um dos meus filhos, tudo foi escolha. E cada escolha feita por mim é resultado de amadurecimento e compreensão do porque estar nesse mundo. Para fazer dar certo juntos! Não daria conta se não tivesse ao lado de alguém que me ajuda a fazer dar certo.

Tenho problemas, inquietações, dramas! E nem todos são compartilhados. O que vocês visualizam são recortes, partes que quero expor para que saibam que há alegria, perrengue, e amor na maternidade. Mas há também um desapego gigante, renúncia, vaidades e falhas que estão em mim, na minha humanidade.

Estou longe de ser a melhor mãe desse mundo e das redes sociais. Eu sou a mãe dos meus filhos. Que se esforça para ser para eles e estar com eles. A maturidade e o entendimento da minha vocação me fez estudar a maternidade, compreender como funciona e como lidar com cada um deles. Veja alegria e faça escolhas. Escolha não dar conta de tudo e viva para servir. Aprenda a priorizar e não se importar se dará conta de tudo ou se outra mãe consegue e você não. Cada uma de nós tem prioridades, rotinas e escolhas diferentes. Seja o melhor para você e para os seus.

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