Dia Internancional da Mulher e não temos o que celebrar

Nesta semana começam as diversas celebrações do Dia Internacional da Mulher. Você, mulher, receberá mensagens, descontos, ligações e até SMS’s de diversas pessoas que você nem conhece. Porém, pelo fato de ser mulher, será abordada e receberá um Card com uma frase bonita, ou até um botão de rosas, pelos mais generosos, quem sabe um chocolate da empresa? 

Eu sou romântica. Amo flores, doces, cestas de comidinhas gostosas e os cafés da manhã que fazem nesses dias…hum! É de ser lembrado. Mas temos o que comemorar? O dia internacional da mulher de 2023 te faz lembrar do que? Eu vou lembrar de todos os homens e mulheres, em sua maioria pais, que transformaram a minha maternidade em empecilho para exercer qualquer tipo de atividade que eu faria tranquilamente, com ou sem filho na barriga.

Queria não ter ouvido ou vivido muita coisa que ouvi e vivi nessa gestação. O João chegou num dos momentos mais delicados e fragilizados da minha saúde mental. E nós sabemos o quanto as pessoas não se importam com isso. Elas querem você bem! E o dia internacional da Mulher não vale assim como você imagina para quem está grávida. Ele vale para a profissional que não tem uma criança no útero ou outra dentro de casa chorando porque quer a mamadeira.

O dia simboliza que: hoje você pode, hoje você tem direitos de ser tratada bem, hoje vou lembrar o quanto você é necessária, mas só hoje. Amanhã já voltam as piadas machistas, a exposição de mulheres e situações, a amnésia coletiva das colegas de trabalho que presenciaram você sendo assediada algum momento. Ah, tem também os camaradas que tiveram uma cegueira momentânea e foram coniventes com o parça que agrediu a namorada no carnaval.

Lamento ser a chata que está dizendo verdades sobre situações que ocorrem todos os dias. Vendo o feminicídio crescer, mulheres morrendo, crianças ficando órfãs, e os profissionais cada vez menos empáticos ou preparados para lidar com essa temática, eu só posso lamentar.

Só em 2022, em 365 dias, a Polícia Civil de Mato Grosso registrou quase 15 mil medidas protetivas contra violência doméstica em todo estado. Desse montante, 101 mulheres morreram e apenas 3 tinham medidas protetivas, 12 mulheres, infelizmente, já possuíam algum registro anterior de violência doméstica.

Aqui em Mato Grosso temos uma mulher à frente da diretoria geral da Polícia Judiciária Civil. A dra. Daniela Maidel é uma excelente pessoa e eu tenho esperanças de grandes avanços nos próximos anos com ela comandando os trabalhos. 

Se você ainda não conhece, em nosso estado existe um canal de atendimento pelo endereço http://sosmulher.pjc.mt.gov.br, a vítima de violência doméstica ou familiar pode solicitar a medida protetiva de urgência online, sem a necessidade de se deslocar até uma delegacia.O serviço está disponível para todos, porém, o Botão do Pânico virtual está disponível para mulheres das cidades de Cuiabá, Várzea Grande, Cáceres e Rondonópolis, onde há unidades do Ciosp. 

Não temos o que celebrar. Ainda sofremos desrespeitos, ameaças, agressões, pelo único fato de sermos mulheres. Somos omissas, temos medo, não sabemos o que fazer em muitas situações e ainda tentam nos calar. Por isso, te convido a refletir se você, de verdade, tem o que celebrar neste dia. 

É mais um dia normal e que não deve ser normalizado em nossa vida. Ser mulher em 2023 é muito difícil e vamos sobreviver a mais um ano de injustiças, maldades, agressões físicas e verbais, além de abusos físicos e psicológicos, mas até quando? Claro que sabemos o que é crime. Mas não se pode fazer muita coisa. Falar, já é uma violência tremenda. Então, feliz mais um dia de março de 2023. Com sua vida, rotina, e um café da manhã nem sempre tão bom assim.

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5 comentários

  1. Triste realidade. E realmente não temos o que comemorar. Infelizmente ser mulher ainda é “ter um alvo na testa” .
    Obrigada pelo texto.

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